A importação de bens e serviços pelo Brasil soma 14,3% do Produto Interno Bruto, colocando o país à frente apenas de Cuba, Turcomenistão e Sudão na lanterna do ranking mundial do indicador. O dado foi atualizado nesta semana pelo Banco Mundial, cuja série histórica agora vai de 1960 a 2018, última aferição disponível.
Para cubanos, o índice é de 12,6%. Turcomenos registram 12,5% e sudaneses, 12,3%. Os três países são bastante isolados, seja pelo bloqueio à ilha caribenha pelos EUA, pela política na Ásia Central ou pela guerra que amputou o sul da nação africana. No mundo, o peso das importações no PIB total, aferido em 218 países pelo Banco Mundial, foi de 29,3%. Somando-se o peso das importações ao das exportações (14,8% em 2018), chega-se a 29,1% do PIB -metade da média mundial, de 60,1%.
Para uma economia emergente como a brasileira, o dado ajuda a colocar perspectiva à expectativa de alguns setores pela nacionalização de linhas produtivas após a pandemia da Covid-19. O impacto da doença sobre cadeias produtivas globais foi grande, devido à paralisação de fornecimento de insumos e peças em diversos setores. No setor químico, 43% dos insumos vêm de fora, basicamente China e Índia. Mas a paisagem geral mostra uma exposição bem menos aguda.
Por óbvio, há diversos óbices à ideia de nacionalização, até porque a desindustrialização que acompanhou o barateamento de produção no exterior retirou investimentos em pesquisa e desenvolvimento críticos para a adoção de tecnologias necessárias para abrir linhas locais. A alternativa, claro, é que tais processos sejam transferidos por multinacionais para o Brasil, mas aí não se está falando do fomento à indústria nacional esperado por setores.
Por outro lado, a elevação do custo de importação com o dólar mais caro que se instalou com a pandemia obrigará alterações no panorama. Os dados do Banco Mundial mostram que mesmo a ideia da China como mera exportadora devido à sua mão de obra abundante é relativa. O país tem mudado bastante de perfil nos últimos anos, aproximando-se como segunda maior economia do mundo dos EUA.
Em 2006, antes do início dos efeitos da grande crise global que explodiu dois anos depois, importações pesavam 28% do PIB chinês, e exportações, 36%. Já 12 anos depois, os valores caíram para 18,7% e 19,2%, respectivamente. Isso mostra que não só americanos, mas chineses viram suas indústrias também buscarem linhas de produção em mercados de mão de obra mais barata.
Lugares como o Vietnã e o Paquistão, por exemplo, são parques industriais chineses em diversos setores. Os vietnamitas viram saltar a participação das exportações em seu PIB de 67% em 2006 para 105% dois anos atrás. Os fluxos de comércio são um indicador do grau de exposição de economias ao exterior, mas precisam ser lidos com cautela nas comparações.
A maior economia do mundo, a americana, importa e exporta proporcionalmente pouco (15,3% e 12,2% do PIB, respectivamente), mas os volumes são brutais.
Além disso, isso mostra um efeito da globalização, com a produção sendo transferida para outros países, como a China ou o México.
Os EUA são o país com o maior número de multinacionais do mundo, com sua economia altamente integrada à do mundo. Fenômeno semelhante se vê no Japão, presente em vários países, com 18,4% de seu PIB oriundo de exportações.
Isso não acontece com todos os países ricos, por suas peculiaridades.
Na Alemanha, o motor da economia europeia, as exportações respondem por 47,7% do PIB, ainda que em volume menor do que o americano (US$ 1,9 trilhão ante US$ 2,5 trilhões em 2018).
Fonte: Folha PE, com informações da Folhapress